#10.ART Encerramento surpresa – Tania Fraga

Infelizmente Ana Mãe Barbosa não pode comparecer para a palestra de encerramento. Porém tivemos a ilustre presença surpresa de:

Tania Fraga.
A artista vem desenvolvendo pesquisa e produção artística “com arte computacional interativa desde 1987, usando tecnologias computacionais de realidade virtual, computação afetiva e física. Artista e arquiteta, é co-autora do projeto de arquitetura do Instituto de Artes da UnB, doutora em comunicação e semiótica pela PUC/SP, e foi professora do Instituto de Artes da UnB onde atua como pesquisadora associada. Desenvolve a pesquisa de pós-doutoramento senior, ‘Tessituras Numéricas’, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.”

Durante sua fala, Tania demonstra imensa paixão pelo que faz, domínio e envolvimento em todas as esferas de conhecimento que uma produção em arte e tecnologia agregam.

Enigma

Enigma é um objeto robótico cujas respostas aos movimentos do interator acontecem através de mudanças nas manchas luminosas que se movimentam em seu interior. Como realizar as mudanças é um enigma a ser descoberto pelo interator.

Caracolomobile from Tania Fraga on Vimeo.

“Caracolomobile é um organismo artificial construído em titânio que percebe e discrimina três estados emocionais humanos e responde a eles expressando-se com sons e movimentos. Explora possibilidades simbióticas entre humanos e máquinas, utilizando procedimentos robóticos e de computação afetiva.” Esta obra é o assunto do artigo publicado nos anais do #10ART
Tania Fraga e com Suzete Venturelli são as responsáveis pela primeira edição do Encontro Internacional de Arte e Tecnologia, em 1989.

Suzete Venturelli
Professora, pesquisadora e artista de computação do Instituto de Artes da UnB. Trabalha na área desde 1987 e atualmente coordena o MidiaLab. Dentre as suas pesquisas, destacam-se as análises dos métodos computacionais utilizados para a criação artística nos aspectos da modelagem, animação, interatividade, realidade virtual, imersão em tempo real, assim como de criação de sistemas hipermidiáticos.

Expos no #10.ART a obra geopartitura desenvolvida no , obra que permite a criação coletiva georeferenciada de um concerto multimídia em tempo real. O sistema formado por software e dispositivos móveis permite a apresesentação de um concerto multimídia cuja composição é realizada ao vivo em tempo real, por pessoas conectadas ao sistema pelos seus celulares. A primeira versão exposta utilizava a distância das pessoas conectadas para influenciarem no som, sendo uma música executada a distância, em que cada pessoa representa um nó.

Já a segunda versão, apresentada no #10.ART, adaptava o sistema para uma interface multitoque.

As duas artistas então são responsáveis por esse grande evento que pude acompanhar na última semana e que Lucia Santaella tem toda razão em relembrar o empenho e perseverança de se mantê-lo no Brasil, em que muitos projetos não tem continuidade. Hoje o Encontro Internacional de Arte e Tecnologia já dura uma semana muito intensa em que as comunicações duram o dia inteiro, englobando não somente pesquisas relacionadas especificamente a arte e tecnologia, mas artistas e pesquisadores que se interessam por discutir o estado atual da arte e nossa realidade social cultural imersa nessa tecnologia inevitável. É com imenso prazer que finalizo os posts sobre a edição de 2011 em que tive a excelente oportunidade de conviver não só com os maiores pesquisadores e/ou artistas da área, mas com muitos dos aspirantes e iniciantes a tal contribuição. Fico muito satisfeita mesmo de poder participar deste evento em que se discute teoria, conceito, prática e técnica. Agora vou passar um bom tempo tentando deglutir toda esta informação para, quem sabe, poder contribuir com a minha pesquisa na edição do ano que vem.

Obrigado a todos que acompanharam o blog. Essa minha iniciativa foi pela necessidade de documentação referida tantas vezes ao longo do #10.ART, relembro que o professor Cleomar Rocha também fez o possível para registrá-la em seu twitter. E convido a todos para continuar seguindo o blog, que retorna ao seu tema, unindo referências de obras, instalações, espetáculos e performances que exploram expressividades do movimento corporal. Estou aberta a sugestões. E quem gostou mesmo, pode curtir o blog pelo facebook e receber os posts diretamente em seu mural.

 

#10.ART – 17 de agosto

Mesa Arte Educação e Tecnologia

Elias Bittencourt
O leitor e os novos dispositivos de acomodação livresca
Analisou livros aplicativos desenvolvidos para o sistema IOS(apple), a partir das três categorias de leitor proposta por Lucia Santaella (contemplativo, movente e imersivo). O recorte neste tipo de sistema foi devido a capacidade de ampliação da experiência de leitura devido aos seus dispositivos que contêm telas multitoque, reconhecimento e interpretação de voz, magnetômetro, geolocalização e giroscópio. Indicou que vários exemplos analisados possuem uma relação muito próxima da estabelecida com o leitor na mídia em papel, ou remetem a sua forma enquanto objeto físico. Apontando para novas possibilidades de desenvolvimento menos baseado na linearidade da narrativa, e em sua representação puramente textual. Exemplos analisados: Petter Rabit, Alice return form madness, The waste land, The fabulous world of Morris Lessmore

Lucio Teles
Apresentaram o projeto Transiarte em que se ensina conhecimentos básicos de informática para alunos de Educação para Jovens e Adultos, com o propósito de desenvolverem vídeos sobre sua realidade sócio-cultural.

Antonio Biancho, Kalina Ligia Borba, Lozirene Rego Leite, Sheilla Campello
Apresentaram o programa que envolve alunos da rede pública com aprendizado de arte e tecnologia, que inclui em sua proposta grupo de estudos, Curso de extensao, Ações educativas em ambiente virtual e Visita ao museu. Arteduca

Amanda
Apresentou o Programa Pró-Licensiatura que desenvolve curso de Teatro a distância, afim de proporcionar alguma formação para cidades que possuem demanda por professores, porém apresentam insuficiência no número de professores com graduação completa.

Mesa Hqtronica e Gameart

Anelise witt
Discursou sobre jogos e games como contribuição para arte contemporânea, apresentando dois jogos desenvolvidos Mapa do Tesouro e Onde está a arte?

Jordana Prado
Pesquisa sobre a incorporacao da realidade aumentada como elemento que contribua a narrativa. Citou projetos desenvolvidos junto com o músico e professor Edgar Franco da banda PostHuman Tantra(que se apresentou no #10.ART), como por exemplo, em que o ser exposto na música se apresenta nas costas do cantor. Neste caso, a realidade aumentada acrescenta a narrativa da música, ampliando a experiência dos expectadores. Jordana também apresenta sua HQtrônica Lila que compara o processo de artística com a gestação.

Pedro Victor, Julio Cesar e Thomaz padilha
Apresentaram o jogo M.O.S.C.A. (Mercenários Ociosos e Sádicos Caçadores de Alienígenas) desenvolvido pelo grupo Fenix DG

Mesa Processos Artísticos de Criação e Atuação

Adriano Bittar
A epigenética e a própriocepção afetiva nos processos composiciomais para a dança contemporânea: fruição entre arte, tecnologia e ciência.
Dar visibilidade aos processos no corpo do dançarino pode fornecer biofeedback para a compreensão e desenvolvimento de novos movimentos.
Desenvolvimento a partir da sua dissertação de mestrado que desenvolveu experiências denominadas células corporais: Estudos imagéticos a partir de fotos de dançarinos
O ato de sensibilizar o corpo para ser dançado: sensibilização corporal. A fim de se estabelecer uma paixão harmoniosa com o corpo a partir da dança, e não nociva.

Emyle Daltro

(I)mobilidade sob(re) rodas: para pensar intersecçoes entre coreografia e instalação
Discursou sobre o conceito de “Instalações coreográficas” a partir de obras de Vera Sala, assim como o limite entre dança e artes visuais.
Apresentou seu trabalho em andamento: “Quem carrega quem?”

Mesa Corpo pós-humano

Andrea Machado(UFSM)
Apresentou a arte interativa sob uma perspectiva de que a obra interativa, em termos de produção, de produto inexiste. Enfatizando a noção de experiência entre corpos e espaços, e a experiência artística. Pois a forma em si é indeterminada, é somente o acaso.

Bruna Roncari(PUC-SP)
Apresentou o projeto “Um corpo qualquer” em que a artista propõe oficinas separadas. A primeira etapa consiste em tentativas de expressões de movimentos e coreografias a partir de uma representação gráfica e a segunda consiste em apresentar estas representações a um grupo distinto que deve interpretá-la em movimento. Bruna busca compreender este mapeamento do movimento e do espaço, a partir de uma estratégia baseada em processo.

Daniele Pires de Castro(UFF)
Apresentou a relação do corpo com aparatos técnicos utilizados por deficientes físicos, focando em exemplos da dança contemporânea.

Manoela Vares (UFSM)
O corpo na arte conteporânea considerações a partir do ciborgue.
Discursou sobre a transição do corpo na arte, em que deixa de ser objeto de representação e passa a ser o próprio objeto de arte. Passando pela body art que tem o corpo como suporte. O desenvolvimento dos ciborgues e da noção de corpos híbridos está vinculado a questão da obscolecência aparente de nossos corpos, que tem acesso a tanto “evoluções na estética quanto em sua capacidade física. Apontando para uma futura destruição da divisão do orgânico e do inorgânico e se questionando sobre o fim da divisão corpo e alma.

Mesa Cibercultura:

Alex Rodrigo
Dogmas 95 dispositivos móveis e experiências tremidas: Em favor da legitimação do discurso amador. Apresenta nossa necessidade de documentação, como forma de legitimação da experiência. Apontando sobre a inserção destes vídeos amadores como forma legitimada de de documentação, como em telejornais. Relembrando o Dogma 95, um manifesto cinematográfico de 1995 que contraria a produção comercial de filmes hollywoodianos e dessa noção de filme ilusão.

Bruno Mendonça
Poéticas Virais: questões multimidiáticas
Apresentou práticas críticas que se situam na fronteira entre design e arte, em que grupos como SUPERFLEX formam estruturas corporativas em uma atuação transmedia subversiva.

Claudio Aleixo Rocha
Elementos estruturantes da animacao interativa ambientada na internet

Wladimir Machado
Blogs de moda: reflexões para uma análise sobre a constituição e autonomia de sujeito

 

*** TODOS OS ARTIGOS QUE COMPÕEM OS ANAIS DO #10ART JÁ ESTÃO DISPONÍVEIS ONLINE

#10.ART – 16 de agosto

Mesa Interfaces Interativas(a)

Mario Alexandre Gazziro (USP)
Apresentou o projeto Inner universe desenvolvido junto com artista Izis Cavalcanti (UNICAMP) em que desenvolvem um espelho eletrônico que altera seu reflexo de acordo com seu estado emocional. Utilizam um capacete chamado Emotiv que resgata nuances desse estado emocional e interpretam a imagem do interator de acordo com uma relação estabelecida entre este estado e escolas de pintura como surrealismo, minimalismo, etc. São como filtros aplicados em tempo real.

Vinicius Souza, orientado por Cleomar Roucha(UFG)
Desenvolvimento de um elemento que possibilitasse o acionamento de interfaces computacionais por gestos, no caso um passador de slides via webcam.

Mesa Cartografias e visualização de dados

Ana Gabriela Leirias
Desenvolve pesquisa de cartografias colaborativas online brasileiras. Baseia-se em conceitos de Milton Santos na divis„o entre tecnoesfera, referente a geografia física, material, técnica e a psicoesfera da ordem do imaterial, simbólico, de valores e intencionalidades.

Ana Lemos e Carlos Praude (UnB UDF)
Apresentaram o projeto exposto no #10.ART Encontro Internacional de Arte e Tecnologia, muito interessante que cria padronagens tipográficas baseadas em pinturas corporais indígenas.

Carolina Reichert (UFSM)
Apresentou o projeto Art.soil: poéticas geotecnológicas que será exposto nos próximos meses na cidade de Santa Maria. No projeto, a artista desenvolve cartografias da cidade de Santa Maria a partir de imagens de satélite.

Ines Moura e Sofia Costa Pinto
As artistas apresentaram um processo dentro de uma “Residência Artística Não-oficial” denominada Residência Eiffel em que frequentaram durante 10 dias um apartamento em obras interrompida temporariamente. Desenvolveram um processo que se assemelha a uma arqueologia daqueles objetos, rastros. Uma espécie de catalogação taxonomica, uma exposição que não ia ser vista por ninguém. O projeto está em fase de captação de recursos para se tornar uma série de livros de artistas. Projeto muito interessante e apaixonado, me recordou um pouco o “Terceiro Mundo” de Marilá Dardot.

Lavinia Seabra(UnB)
Apresentou o projeto em desenvolvimento de um site para criação de estampas em processo coletivo eou colaborativo. Explora o desafio de se desenvolver a poética artística em redes digitais. O projeto será publicao online em setembro no site Textilskin Caso alguém tenha interesse ou sugestões, favor entrar em contato.

Mesa Interfaces Computacionais (b)

Alexandra Caetano(UnB)
Apresenta estudos e considerações para o desenvolvimento de uma interfaceologia. A partir de análise da combinação entre hardware e software e da relação com o fruidor. Explorando diversos sentidos, que não se restringem a somente audição, visão e tato.

Vanderlei Lopes Junior(UFG)
Apresentou uma análise sobre games de um ponto de vista da tecnopsicologia, destacando a função da categoria emergente dos serious games e meaningful games que aborda conceitos de ética entre outras coisas.

Carlos Alberto Donaduzzi e Camila Zappe(UFSM)
Fizeram uma comparação analítica das duas montagens da obra de Regina Silveira “Descendo Escadas”

Mauricio Candido Taveira(USP)
Desenvolvimento de uma narrativa cinematográfica interativa natural através de óculos que captam a direção do olhar, optando involuntariamente por personagens ou objetos de cena.

<a href=”http://www.medialab.ufg.br/art/10-art/anais-2&#8243; target=”_blank”>*** TODOS OS ARTIGOS QUE COMPÕEM OS ANAIS DO #10ART JÁ ESTÃO DISPONÍVEIS ONLINE</a>

#10ART – 15 de Agosto

Mesmo esquema do post sobre 14 de agosto, vou apenas citar brevemente alguns projetos expostos. Devo reafirmar que esta é a minha visão e que não posso descrever todas as comunicações. Novamente relembro que o professor Cleomar Rocha(UFG) também está documentando o evento em seu twitter, inclusive respondendo perguntas ocasionalmente e cobrindo mesas que não pude assistir. Se por acaso alguém souber de mais alguém que esteja contribuindo para esta documentação, por favor adicione links etc. nos comentários. Seria interessante pensarmos em uma rede de documentação.

Átimus de Aníbal Alexandre, Jackson Marinho e Victor Valentim
Caixa Preta que cria sons e imagens a partir do equilíbrio da distancia das pessoas que estão a sua volta.

ÁTIMUS from Jackson Marinho on Vimeo.

EVOtwitter de Francisco de Paula Barreto
Criação de paisagem sonora e visual a partir de “DNA” de tweets. Ainda em emplementação.

Adriana Parada apresentou trabalhos como Resistéia e Cantavisse, porém não encontrei material online. O primeiro trata de uma rede cultural social baseada no mito de resistéia em que a aranha tece a rede. E o segundo, seria transposição da captação sonora de instrumentos antigos inacessíveis na criação de um novo instrumento digital.

Ana Paula Ferreira Poesia digital e espacialidades, desenvolveu um projeto porém não encontrei o link, se por acso encontrar atualizo aqui, é bem interessante

Hudson Bonfim fez uma retrospectiva da inserção da tecnologia no universo musical

Beatriz Pinheiro de Campos discutiu sobre o uso de biografias no processo de contextualização da obra do artista e do papel do crítico na relação com o artista e o fruidor

Claudia Pereira Mattos apresentou o Centro Cultural Celina como um centro cultural de arte e tecnologia em Juiz de Fora na década de 60

Franciele Filipini apresentou reflexões sobre a curadoria em arte contemporânea geradas durante o processo de entrevistas com grandes nomes brasileiros publicado em seu livro. Mais informações em: http://www.virtus.art.br

*** TODOS OS ARTIGOS QUE COMPÕEM OS ANAIS DO #10ART JÁ ESTÃO DISPONÍVEIS ONLINE

#10ART – 14 de agosto

No dia 14 de agosto de 2011, domingo o evento #10.ART Encontro Internacional de Arte e Tecnologia migrou para o Auditório da UnB. As mesas em sua maioria apresentam trabalhos práticos a partir de uma perspectiva teórica. Como são muitos projetos vou tentar fazer pequenas galerias de imagens e vídeos e a parte teórica bem reduzida. Outro porém, vou tentar postar sobre as obras que encontro material online. O professor Cleomar Rocha da UFG tem twittado a respeito, inclusive respondendo ocasionais perguntas no momento das palestras.

Lia.artifcialis.com de Nikoleta Kerinska e Rafael Calucci

Criação de um artista autômato, um artista artificial, inspiração em imagens do caleidoscópio. Processo de interatividade: entrar no site, escrever uma frase e escolher entre os 7 processos disponíveis. O artista artificial lê a frase como imagem, e não como texto, criando uma nova imagem a partir desta.

1maginari0 – grupo UFMG




Essa última imagem é um preview de uma performance QNSNS2 com Chico de Paula que vai ocorrer no FAD, quando ocorrer pode deixar que vai ter post aqui no blog!

Clarissa Ribeiro (USP)

instalação inspirada na estrutura espiral não convencional em que os participadores alteram a imagem de uma performance pré-gravada
Apresentou também a proposta de um modelo de visibilidade de estrutura organizacional de processos coletivos de criação. Ddesenvolveu em sua tese de doutorado na USP para pensarmos esta dinâmica baseado em modelos biológicos.

Estes foram os projetos que encontrei material online organizado. Para constar tive a oportunidade de ver outros projetos como:
Flowing River – Rio Amazonas de Marcos Rizzoli;
Tecidos Tectonicos de Sidney Tamai;
Poéticas da Noite de Lara Seidler e Leonel Brum;
Robô de Julia Zamboni.

Ainda tivemos a oportunidade de ouvir alguns teóricos ao longo do dia:
Carlos Praude(UnB): abordou a estética da comunicação e a ruptura cognitiva que enriquece qualidade sensoriais e perceptivas gerando outras formas de sentir e novos modelos estéticos.
Greice Antolini(UFSM): abordou os aspectos da interatividade que desenvolvem novas relações com o texto e formas de leitura.
Renata La Rocca : apresentou a mnemônica em uma abordagem espacial
Fabrizio Augusto(PUC-SP): que fez uma revisão dos conceitos de Vilém Flusser
Daniel Hora(UnB): abordou aspectos do hackeamento como abstração e a possibilidade de se produzir a diferença a partir desta, em um contexto de hipersubjetividade
Debora Gasparetto(UFSM): que abordou os desafios de se estabelecer práticas expositivas em arte e mídia

*** TODOS OS ARTIGOS QUE COMPÕEM OS ANAIS DO #10ART JÁ ESTÃO DISPONÍVEIS ONLINE

#10ART Mesa História da Arte (13 de agosto de 2011)

Priscila Arantes (PUC-SP)

Reescrituras da arte contemporânea: historia, memória, arquivo e mídia

Morte é um assunto recorrente na história do seculo XX em diante. Essa mortalidade da própria noção de história está vinculada ao fortalecimento do capitalismo neo-liberal. Lyotard afirma a finalização de grandes narrativas que se apresentam sequencialmente na historia da humanidade. Belting escreve um livro sobre o fim da historia da arte e indica que esta morte não aconteceu, o que acontece no contexto pós modernista é que alterou a escritura da historia da arte se tornou incompatível com a produção contemporânea. A narrativa da historia da arte não mais pode ser caracterizada por essa linearidade, e essa sequência de gêneros deve ser repensada. Rosalind Kraus também discursa sobre isso definindo uma condição pós-midiática, em que a noção da mídia pura de Greenberg e esta divisão da produção artística entre midias tambem devem ser repensada. Aí Priscila invoca Benjamin que diz que nesse mar de ruínas talvez fosse interesante resgatar os cacos da historia, para podermos reconstruir nossa visão. As descontinuidades são momentos críticos em que mudanças podem ocorrer. Noção de montagem como método deve ser levada em consideração para esta reflexão sobre a escritura histórica. Assim como o montador, o artista edita e recorta; e o historiador deve reescrever a história. A montagem cinematografica já incorpora o arquivo e o banco de dados e um possível hipertexto, em uma narrativa que se aproxima do banco de dados.
Na arte interativa, o público também é um montador produz a sua propria narrativa, define temporalidades. Posto isso: o nosso contato com a mídia, seja no passado ou presente se dá através de imagens. O nosso cotidiano se dá através de uma realidade visual midiática. Como os artistas vem potencializando esta discussão. Repetir esta realidade de forma diferente. Neste contexto, Priscila define 3 visões sobre a historiografia do contemporâneo:
  • Reencenação:  baseada no remake cinematográfico, busca uma possibilidade de reconciliação com o passado, uma releitura numa tentativa de  re-experienciá-lo.
  • Arquivar: Que problematiza a questão do arquivo. Esta questão invadiu a contemporaneidade através de sites e blogs que reúnem e compartilham arquivos pessoais, mas ao mesmo tempo contém uma efemeridade. Ressaltando fatos relevantes que muitas vezes escapam da percepção.
  • Espacialização da narrativa: A presença de diversos planos que se exibem simultaneamente, ou a prática de se levar para o espaço público algo que é restrito a um grupo privado.

Emerson Dionísio (UnB)

Sobre as obras que não temos acesso a documentação

Arte contemporânea se apresenta como um desafio para historiadores da arte, em especial suas manifestações efêmeras cujo não temos acesso a imagens. É muito conhecido o ato performático realizado por Flavio de Carvalho, experiencia 3, em que o artista chocou pela sua irreverência ao andar vestindo uma blusa de mangas curtas, saia acima dos joelhos, meias arrastão, sandálias de couro e chapéu de náilon pelas ruas de São Paulo em 1956. Esta experiência conta com registro fotográfico. Sua experiencia 2 em que Flavio andou no sentido contrario a um cortejo, provocando a revolta dos religiosos carece de registros e documentação. Na performance de Artur Barrio ‘4 dias 4 noites’ e o artista caminhou ininterruptamente até o esgotamento. Nada ficou como registro além da memória do artista. A questão do registro de obras efêmeras tem sido uma questão. No caso de Flavio o caráter artístico foi dado posteriormente. O problema é quando o artista ativamente rejeita o registro, quebrando com uma ferramenta mantedora da arte, a história. Fotografias se tornam elementos importantes do registro, alguns desses registros superam o aspecto documental para se tornar a própria poética da arte. Embora muitos artistas neguem isso. Esses registros se tornam objetos de apreciação estética. A imagem da arte e a arte que vende a si mesma. Qual a diferença entre o ato da performance em si e esse registro? Há um processo em que os limites entre o registro poético e documental são dissolvidos. Os artistas começam a se posicionar dentro dos universos imagéticos de forma provocativa, narrativas exteriores a obra. Funcionam como elementos essenciais a obra só que em realidades virtuais.  A historia não se mantém quando o universo imagético não é suficiente. O hitoriador se torna refém de outra ordem o relato seja falado ou escrito, o que leva historiadores da arte a cairem em ciladas conceituais, como referencias bibliográficas. Ancorando o relato ao processo bibliográfico. O caso do artista é uma exceção, pois apesar de ter se recusado ao registro daquela performance, muda de postura posteriormente adquirindo o hábito de documentação, a partir de fotos e textos dando acesso a uma trajetória de produção artística que permite obter uma noção do que foi. O grande problema da história da arte o posteriori, são os múltiplos remanejamentos. O sistema posteriori necessita acrescentar inteligibilidade ao passado, recusando obras de genealogia duvidosa, como as que tem sua documentação defasada. O relato apenas verbal, seja falado ou escrito coloca a prática do historiador em questão.  Barrio permanece uma situação isolada pois se trata de artista renomado. Como discutir uma obra de um artista que avisa por meio de redes sociais sobre uma performance a acontecer, e que se recusa a documentar e discutir o assunto? A resposta é simples: Se não há registro da arte ou qualquer relato do artista, a obra inexiste, acho que o problema está resolvido.

Grupos de Pesquisa e Produção em Arte e Tecnologia no Brasil


LABVIS (UFRJ) coordenado pela professora Doris Kosminsky
desenvolve pesquisa e produção em design de informação, visualização artística de dados, estudos da visualidade, mídia e arte. (da qual faço parte)

NANO (UFRJ) – Coordenado pelos professores Guto Nóbrega e Malu Fragoso
Hibridações experimentais em arte tecnologia para se estabelcer um espaço transdisciplinar de desenvolvimento de novos modelos cognitivos. (da qual sou colaboradora)


Poéticas Tecnológicas (UFBA) coordenada pela professora Ivani Santana

Poéticas Digitais (USP) – coordenado pelo professor Gilbertto Prado
trabalhos abordados neste post

EcoArte (UFBA) coordenado pela professora Karla Brunet
EcoArte desenvolve pesquisa teórica e artística analisando projetos de projetos de intersecção de arte, tecnologia e meio ambiente. As linhas de pesquisa abrangem estudos sobre arte e meio ambiente, natureza, lugar, território, paisagem, tecnologia, Land Art, Environment Art, Eco-Art, mapeamentos artísticos, interatividade e experimentação tecnológica.
MediaLab(UFG) coordenado pelo professor Cleomar Rocha
espaço interdisciplinar integrado aos departamentos de Arte, Musica, Ciência da Computação e Comunicação.
Estabelecimento de muitas parcerias em território nacional e internacional entre elas:
MidiaLab (UnB) coordenado pela professora Suzete Venturelli
Projetos selecionados: WikinaruaCiurbiGeopartitura, Som interativo Digital
NAT (Parque Lage – RJ) – Coordenado pela professora Tina Velho
CORPOS INFORMÁTICOS (UnB) – coordenado pela professora Bia Medeiros
Grupo de arte fuleira(artes efêmeras como performance) podem utilizar tecnologia ou não
Projetos selecionados: Mar(ia-sem-ver)gonha; Anticorpos; Kombi; Amarelinha binária
LABART(UFSM) coordenado pela professora   Nara Cristina Santos
pesquisa teórica crítica e história da arte e tecnologia


1maginari0 (UFMG) coord. por Francisco Marinho e Jalver Bethônico

Trabalhos selecionados: Palavrador, Casarão Verde

LIPPO (UFPI) Coordenado pelo professor Algeir Sampaio

#10ART Mesas Arte & Corpo; Dramaturgias; e Sentindo&Pensando

As mesas de arte e corpo e de dramaturgia muito me interessam pela minha aproximação com o teatro e a dança, particularmente o movimento corporal é o que gera todo meu projeto de mestrado. Por isso, vou tentar reunir aqui alguns conceitos discutidos nas duas mesas. Especificamente nas falas de Soraia Silva, Hugo Rodas, Cinthia Nepomuceno e Luciana Lara. Bom, como me atrasei no post vou aproveitar para unir com a Mesa Sentindo & Pensando do dia 12 de agosto, coordenada pela dançarina Ana Livia Cordeiro, que também teve presença de Ellen Slegers e Valeria Bahia.

Vou iniciar com a fala de Soraia Silva:
Ao lado da consciência existe a vida (BERGSON). A origem da dança é o fluxo da vida. A força química, física e mecânica se unem em um gesto natural. A modernidade busca a tensão do movimento, diferente do Ballet que muitas vezes busca a forma final do movimento, ou seja a pose. Existe uma troca entre o espírito e matéria no devir do movimento. Criação em dança é experimental por excelência, onde não existe fronteiras rígidas entre dentro e fora.
Luciana Lara vai discursar sobre a experiência corporal em termos de memória e técnica. O corpo está moldado pelos nossos hábitos cotidianos, em como tomamos banho, como fazemos sexo, como agachamos. No universo da dança contemporânea os dançarinos costumam ter contato com uma técnica como Cunningham, Graham etc. Este contato se revela em uma série de valores estéticos não só em repertório corporal, mas também em termos para nominá-las, que são restritores de uma forma de compreensão e expressão corporal. Em estados mais altos de consciência, caracterizados como êxtase ou transe, se refletem simultaneamente os estados biológico, físico, emocional, psicológico. Existem portanto uma série de camadas que preenchem o sentido do movimento, e essas características se expressam em diferentes personalidades. Portanto, Luciana defende que a dança deve ser vista como uma improvisação dirigida e não como uma série de passos.
Dentro desta categorização de movimentos me chamou a atenção os conceitos de Gabrielle Roth que Cinthia Nepomuceno apresentou. Roth caracteriza o movimento em 5 categorias. Fluente, estacato, fragmentado, lírico e calma. Estas categorias não limitam a forma do movimento mas são mais uma descrição da relação com o espaço e o tempo. Se são contínuos, quebrados, repetitivos, etc. Outra questão abordada por pessoas da plateia foi descrições do movimento que se limitam a partes do corpo, por exemplo descrevendo passos dos pés e se esquecendo do tronco e das mãos.
Hoje em dia podemos descrever tudo como algoritmos, inclusive movimentos corporais. O percurso dos números foi exposto da vida de Hugo Rodas de forma muito carismática que resultou na sua experiência em dança que parte exclusivamente dos números. A questão da métrica e do ritmo cria uma aproximação muito forte entre a dança e a música com a matemática. Normalmente a matemática é associada a precisão das ciências exatas. Luiz Velho, meu co-orientador, pesquisador do Instituto de Matemática Pura e Aplicada me diz sempre que matemática é abstração são idéias e isso pode nos dar uma visão menos “medrosa” da matemática e das ciências exatas.
Ana Livia Cordeiro começou sua fala indagando sobre o que aconteceria se nos explicassem quimicamente os nossos sentimentos, por exemplo a sensação de estar apaixonado. A emoção não se dá através de pensamento, os nossas sensações e sentimentos estão enraizadas no nosso corpo, em nossa carne. E por mais que tentemos descrevê-las nenhuma explicação compreende ou substitui o sentimento em si, a experiência, a vivência. Toda arte trabalha esse drama inerente as nossas vidas. Esse drama que é condensação e concentração da ação. Para a dançarina, o que nos motiva hoje na arte é uma leitura da natureza em contraponto com o que nós sentimos. Na minha visão é uma tensão entre o interno e o externo, o que precisamos botar para fora, o que nos é externo que se transforma internamente e é preciso expulsar novamente em novas formas. Quanto mais nos conhecemos, mais profundo é o nosso mistério.  Esta relação foi explorada em um de seus ultimos projetos, em que o seu batimento cardíaco influencia cromaticamente na imagem capturada pela câmera. O projeto pode ser experimentado inclusive na internet, no site www.analivia.com.br/voce

Ellen Slegers vai falar sobre esta relação do corpo com a necessidade expressiva afirmando que o artista trabalha para atingir o nível de utopia em seu nível de emocionalidade. O corpo gera suas emoções. Um ponto que ela mencionou que achei muito interessante foi sobre o medo da proximidade, se referindo uma performance de Valie Export, na qual ela cortava a parte de sua calça jeans que cobria sua genitália e entrava em um cinema pornô oferecendo aos espectadores uma ‘verdadeira genitália’ e ia passando pelas fileiras apontando um revólver para as pessoas da plateia. Aos poucos as pessoas foram se levantando e se retirando do local. Este medo de proximidade que se reflete tanto na própria artista que carregava um revolver, quanto nas pessoas que se retiravam pode se refletido dentro do que Malu Fragoso discutiu sobre o pós-biológico na arte. Será que este medo de proximidade existe em um mundo que a vida está impregnada de relações virtuais e que muitas vezes isso acarreta em uma superficialidade? Seria esta uma própria noção de morte que buscava no contexto tecnológico contemporâneo, sendo as duas faces da moeda? Para encerrar Ellen perguntou a plateia se nós acreditávamos que a tecnologia poderia nos suprir dessa necessidade de utopia da arte. Responderam: A mídia é sempre uma busca da melhor forma para expressar seus questionamentos sobre o que não é visível. Tudo é uma questão de até onde ela quer ir, usar a tecnologia não para compreender este invisível, mas para expressar sua imaginação deste. Os meios não tem consciência de si, nós que damos esta consciência. O artista utópico carrega a utopia consigo, e pode transmiti-la pelos meios tecnológicos, mas estes em si não são utópicos.

Eu acredito que sim, a tecnologia pode representar a utopia artística. Mas não devemos esquecer da noção do nosso próprio corpo que é orgânico, mecânico, material. A tecnologia assim como qualquer outra forma de arte só nos ajuda a ter novas percepções deste corpo. Esta minha visão é influenciada pelo conceito de Hans Belting de corpo como mídia viva, que defende não somente a independência do corpo uma mídia em constante mutação(física, mental, imagética), mas também o papel da subjetividade humana nessa mediação em uma arte midiática. O autor diz que o corpo humano permanece o mesmo desde sempre, mas que a arte e as diferentes mídias apenas contribuem para novas percepções deste corpo.

Esta atenção para não nos cegarmos pela tecnologia ficou bem exemplificada na fala de Valéria Bahia. Ana Livia a convidou para integrar a mesa por ser endocrinologista e poder contribuir com a discussão sob outro ponto de vista. Ela acredita que se as pessoas descobrissem o que acontece quimicamente, haveria algum nível de desencanto neste sentimento, que a noção de drama abordada por Ana Livia seria abalada. Ela reforça que o mau uso da tecnologia nos prejudica e exemplifica com o fato de pessoas muitas vezes não se conformarem de ter um problema emocional e necessitarem de uma ajuda médica,  se conformando com um desequilíbrio químico. Isso acaba com a predisposição ao sentimento. Ela exemplifica também com uma experiência pessoal, em que caminhava em um lugar envolta em seus pensamento e de repente sentir um forte cheiro de desinfetante. Parou e foi buscar a fonte do cheiro visto que estava em um lugar improvável para sentir este cheiro, quando olhou em volta viu que estava cercada de árvores de eucalipto. Ou seja, a presença da tecnologia é inevitável em nossas vidas, e ela realmente modifica nossa percepção. Devemos ficar atentos a um bom uso desta tecnologia. Na arte, a neuroestética cada vez mais presente não deve ser utilizada para compreender esta sensação, mas para explorar novas percepções, porque como Ana Livia disse a emoção não se dá através de pensamento, os nossas sensações e sentimentos estão enraizadas no nosso corpo, em nossa carne. E é para este sentimento que devemos estar atentos. Não sei o que aconteceria se nos explicássemos quimicamente, mas acredito que a sensação de desilusão seria momentanea, e após algum tempo já estaríamos envolvidos novamente em nossos sentimentos, que são involuntários. Gostaria de fechar esta discussão em um verso de Marisa Monte que aborda esta tensão maravilhosamente:

“Meu coração é um músculo involuntário e ele pulsa por você”

(Marisa Monte, Eu sei (na mira)

Quer saber mais? Aqui vão os links dos textos:

#10ART – Dia 2 – Pós-biológico na arte

Assim como na mesa de neuroestética eu vou tentar unir a fala dos 4 participantes. São eles: Maria Luiza Fragoso, Cleomar Rocha, Guto Nóbrega e Gilbertto Prado.

A mesa começou com a fala de Maria Luiza Fragoso discursando sobre as máquinas inteligentes que tem essa capacidade de interagir e sobre a nossa inevitável convivência com elas. Elas necessitam somente de uma fonte de energia para viver mas ao mesmo tempo podem se tornar subitamente mortas a um simples toque. Parecem ter vida. Nós respondemos e reagimos a ela o que nos dá a sensação de comunicação. O que nos interessa é a comunicação, logo nos desinteressamos pelo que nos parece inanimado, pelo que não conseguimos nos comunicar. Na própria vida natural, por assim dizer, já existes muitos seres que não conseguimos nos comunicar, como plantas, insetos, e nesta falta de comunicação muitas vezes nos esquecemos que são seres vivos. Essa falta de comunicação nos distancia, nos afasta da vida orgânica. Nos sentimos cada vez mais vivos ao se conectar na rede, ao ingressar em redes sociais e nos “comunicar” constantemente com o maior número de amigos possíveis. O que é estar vivo e morto no contexto tecnológico contemporâneo? Será possível experimentar a morte da mesma forma que temos a sensação de vida? A artificialização das relações parece desvalorizar o valor tênue e efêmero da nossa vida, e que a nossa vida é orgânica. O que seria então o pós-biológico e pós-humano? A fala de Cleomar Rocha vai começar então defendendo a ideia de que a arte é por si só pós-biológica. No sentido que é resultado de uma cadeia produtiva que utiliza sistemas, artefatos, mecanismos, materiais a partir de intervenção humana. Quando dizemos ‘pós’ é com uma perspectiva de ampliação e não de substituição. O ciberespaço pode ser visto de diversas formas. A primeira a do paralelismo em que consistiria então em uma realidade paralela, em que você atua através de um avatar. A segunda seria de um atravessamento, quando acessamos algo remotamente. E a terceira uma visão atomizada em que podemos nos plugar e conectar a qualquer hora de qualquer lugar, uma visão próxima da cultura contemporânea. O Pós-biológico se aproxima da visão de atravessamento em que nos conectamos através de um dispositivo para acionar o sistema. Podemos então discutir os exemplos das obras de Guto Nóbrega e Gilbertto Prado a partir das falas de Malu Fragoso e Cleomar Rocha. Guto Nóbrega se interessa pelos seres híbridos, uma forma de mesclagem e intervenção de seres orgânicos com máquinas, foi criada Breathing “feita da comunicação entre um organismo vivo e um sistema artificial.

Breathing from Guto Nobrega on Vimeo.

A criatura responde ao seu ambiente através de movimentos, luzes e ruídos. O ato de respirar é a melhor maneira de interagir com a criatura. Este trabalho é o resultado de uma investigação sobre plantas como agentes sensíveis na criação de arte. A intenção desta obra é explorar novas formas de experiência artística através do diálogo entre processos naturais e artificiais. Breathing é um pré-requisito à vida e é o caminho que interliga o observador à criatura. Breathing é um trabalho de arte movido por um impulso biológico. Sua beleza não é revelada na planta ou na estrutura robótica. Essa emerge no exato momento em que o observador e criatura trocam suas energia através do sistema. É durante esse momento lúdico, no qual nos encontramos num estranho diálogo com a criatura, que a metáfora da vida é criada” Breathing é como uma tentativa de comunicação com esses seres inanimados citados por FRAGOSO.

Guto afirma que este momento de interatividade se torna então uma relação interafetividade. Afeto aí pode ser considerado de duas formas, uma relação mutua de ação e reação ou de um sentimento “caridoso”, “amoroso”, se é que me entendem. Gilbertto Prado apresentou os projetos que vem desenvolvendo com o Grupo Poéticas Digitais na USP. Três projetos foram apresentados o Desluz resultado de uma indagação de porque os insetos ficavam rondando as luzes urbanas. Isto o fez pesquisar sobre o aspecto da luz. Os insetos são sensíveis ao o infravermelho que podemos sentir mas não podemos ver. O resultado foi uma instalação constituida de um tubo de LED que aparentemente está apagado e não interage. Quem passa pela instalação desapercebido pode pensar que não funciona, porém ao vê-la através do celular, as luzes estão acesas. A instalação é sobre o que sentimos porém não compreendemos.

Esta instalação se inspira em seres citados na fala de Fragoso, é interessante perceber que apesar de nos impormos entre outras espécies pequenos seres possuem a sensibilidade para coisas que nós não percebemos. A segunda obra de Gilbertto Prado foi a instalação Amoreiras que foi instalada no ItauCultural. Foi criado um sistema que captava o som da rua e do chão que acionava motores que chacoalhavam as amoreiras. Cada árvore era sensível a uma frequencia sonora. Além disso, o sistema incluia o princípio de vizinhança em que uma arvore parada aprendia com sua vizinha e começava lentamente a se mexer também. Esta experiência foi também exemplo da interafetividade citada por Nóbrega.

As amoreiras foram capazes de interromper o ritmo infreável de paulistas que passavam na rua, que prestavam atenção nos seres híbridos, orgânicos inanimados em movimento. O último experimento foi apresentado aqui no #10ART chamado Catavento que é um diálogo entre céus e nuvens. Foi projetado no Museu da Repubica uma animação sensível a direção e intensidade do vento. Nela a palavra Céu se apresenta e desloca de acordo com o sentido do vento e as partículas que se desfazem de acordo com sua intensidade. Uma arte que interage não com os humanos, mas com a natureza. Uma obra que nos faz ter que relembrar e esperar o tempo da natureza.

Ao final da mesa Lucia Santaella pontuou algo muito interessante: no século XX o homem fez uma descoberta muito importante: a vida é código(se referindo ao código genético). Antes disso atribuiamos a invenção de códigos ao homem. Sendo assim, até onde vai a vida?

#10ART – Dia 2 – Ana Beatriz Barroso

Um pouco da palestra de Ana que me tocou pela beleza das palavras

A arte sempre foi vista como uma ilusão, um mundo sensível, mundo imaginário completo, como uma outra realidade. Durante muito tempo sua função foi entreter, representar e iludir. Por um lado, a indústria cultural se apropriou disto e por outro novas funções foram sendo revelados. A arte passou a ser uma postura, um modo de olhar. O que ela defende é que a arte representa uma forma de conhecimento resultante de sensibilidade e emoção. De início a linguagem não é. Não é nada. É uma forma, uma relação. As palavras mudam de sentido de acordo com a organização delas. Portanto, a linguagem é um relacionamento, é relativa. Não é um meio de comunicação, um meio seria a escrita. A linguagem tão pouco é exclusividade humana. O que e estranho é a complexidade que adquiriu e nos permitiu nos impor entre outros animais. Dizer que existe uma linguagem da arte, seja visual, musical, plástica, é poder dizer que pensamos música, imagem e que a arte é uma forma de pensamento independente da linguagem verbal. O corpo sensível pensa de todas as formas simultaneamente, não sistematicamente e é isso que torna cada momento ímpar. O misterioso não é a arte, mas a vida! Conhecer é relacionar habitar a linguagem ao mesmo tempo que nos sentimos abandonados por ela.

Seu texto já está disponível aqui!