#10ART Mesa História da Arte (13 de agosto de 2011)

Priscila Arantes (PUC-SP)

Reescrituras da arte contemporânea: historia, memória, arquivo e mídia

Morte é um assunto recorrente na história do seculo XX em diante. Essa mortalidade da própria noção de história está vinculada ao fortalecimento do capitalismo neo-liberal. Lyotard afirma a finalização de grandes narrativas que se apresentam sequencialmente na historia da humanidade. Belting escreve um livro sobre o fim da historia da arte e indica que esta morte não aconteceu, o que acontece no contexto pós modernista é que alterou a escritura da historia da arte se tornou incompatível com a produção contemporânea. A narrativa da historia da arte não mais pode ser caracterizada por essa linearidade, e essa sequência de gêneros deve ser repensada. Rosalind Kraus também discursa sobre isso definindo uma condição pós-midiática, em que a noção da mídia pura de Greenberg e esta divisão da produção artística entre midias tambem devem ser repensada. Aí Priscila invoca Benjamin que diz que nesse mar de ruínas talvez fosse interesante resgatar os cacos da historia, para podermos reconstruir nossa visão. As descontinuidades são momentos críticos em que mudanças podem ocorrer. Noção de montagem como método deve ser levada em consideração para esta reflexão sobre a escritura histórica. Assim como o montador, o artista edita e recorta; e o historiador deve reescrever a história. A montagem cinematografica já incorpora o arquivo e o banco de dados e um possível hipertexto, em uma narrativa que se aproxima do banco de dados.
Na arte interativa, o público também é um montador produz a sua propria narrativa, define temporalidades. Posto isso: o nosso contato com a mídia, seja no passado ou presente se dá através de imagens. O nosso cotidiano se dá através de uma realidade visual midiática. Como os artistas vem potencializando esta discussão. Repetir esta realidade de forma diferente. Neste contexto, Priscila define 3 visões sobre a historiografia do contemporâneo:
  • Reencenação:  baseada no remake cinematográfico, busca uma possibilidade de reconciliação com o passado, uma releitura numa tentativa de  re-experienciá-lo.
  • Arquivar: Que problematiza a questão do arquivo. Esta questão invadiu a contemporaneidade através de sites e blogs que reúnem e compartilham arquivos pessoais, mas ao mesmo tempo contém uma efemeridade. Ressaltando fatos relevantes que muitas vezes escapam da percepção.
  • Espacialização da narrativa: A presença de diversos planos que se exibem simultaneamente, ou a prática de se levar para o espaço público algo que é restrito a um grupo privado.

Emerson Dionísio (UnB)

Sobre as obras que não temos acesso a documentação

Arte contemporânea se apresenta como um desafio para historiadores da arte, em especial suas manifestações efêmeras cujo não temos acesso a imagens. É muito conhecido o ato performático realizado por Flavio de Carvalho, experiencia 3, em que o artista chocou pela sua irreverência ao andar vestindo uma blusa de mangas curtas, saia acima dos joelhos, meias arrastão, sandálias de couro e chapéu de náilon pelas ruas de São Paulo em 1956. Esta experiência conta com registro fotográfico. Sua experiencia 2 em que Flavio andou no sentido contrario a um cortejo, provocando a revolta dos religiosos carece de registros e documentação. Na performance de Artur Barrio ‘4 dias 4 noites’ e o artista caminhou ininterruptamente até o esgotamento. Nada ficou como registro além da memória do artista. A questão do registro de obras efêmeras tem sido uma questão. No caso de Flavio o caráter artístico foi dado posteriormente. O problema é quando o artista ativamente rejeita o registro, quebrando com uma ferramenta mantedora da arte, a história. Fotografias se tornam elementos importantes do registro, alguns desses registros superam o aspecto documental para se tornar a própria poética da arte. Embora muitos artistas neguem isso. Esses registros se tornam objetos de apreciação estética. A imagem da arte e a arte que vende a si mesma. Qual a diferença entre o ato da performance em si e esse registro? Há um processo em que os limites entre o registro poético e documental são dissolvidos. Os artistas começam a se posicionar dentro dos universos imagéticos de forma provocativa, narrativas exteriores a obra. Funcionam como elementos essenciais a obra só que em realidades virtuais.  A historia não se mantém quando o universo imagético não é suficiente. O hitoriador se torna refém de outra ordem o relato seja falado ou escrito, o que leva historiadores da arte a cairem em ciladas conceituais, como referencias bibliográficas. Ancorando o relato ao processo bibliográfico. O caso do artista é uma exceção, pois apesar de ter se recusado ao registro daquela performance, muda de postura posteriormente adquirindo o hábito de documentação, a partir de fotos e textos dando acesso a uma trajetória de produção artística que permite obter uma noção do que foi. O grande problema da história da arte o posteriori, são os múltiplos remanejamentos. O sistema posteriori necessita acrescentar inteligibilidade ao passado, recusando obras de genealogia duvidosa, como as que tem sua documentação defasada. O relato apenas verbal, seja falado ou escrito coloca a prática do historiador em questão.  Barrio permanece uma situação isolada pois se trata de artista renomado. Como discutir uma obra de um artista que avisa por meio de redes sociais sobre uma performance a acontecer, e que se recusa a documentar e discutir o assunto? A resposta é simples: Se não há registro da arte ou qualquer relato do artista, a obra inexiste, acho que o problema está resolvido.

Grupos de Pesquisa e Produção em Arte e Tecnologia no Brasil


LABVIS (UFRJ) coordenado pela professora Doris Kosminsky
desenvolve pesquisa e produção em design de informação, visualização artística de dados, estudos da visualidade, mídia e arte. (da qual faço parte)

NANO (UFRJ) – Coordenado pelos professores Guto Nóbrega e Malu Fragoso
Hibridações experimentais em arte tecnologia para se estabelcer um espaço transdisciplinar de desenvolvimento de novos modelos cognitivos. (da qual sou colaboradora)


Poéticas Tecnológicas (UFBA) coordenada pela professora Ivani Santana

Poéticas Digitais (USP) – coordenado pelo professor Gilbertto Prado
trabalhos abordados neste post

EcoArte (UFBA) coordenado pela professora Karla Brunet
EcoArte desenvolve pesquisa teórica e artística analisando projetos de projetos de intersecção de arte, tecnologia e meio ambiente. As linhas de pesquisa abrangem estudos sobre arte e meio ambiente, natureza, lugar, território, paisagem, tecnologia, Land Art, Environment Art, Eco-Art, mapeamentos artísticos, interatividade e experimentação tecnológica.
MediaLab(UFG) coordenado pelo professor Cleomar Rocha
espaço interdisciplinar integrado aos departamentos de Arte, Musica, Ciência da Computação e Comunicação.
Estabelecimento de muitas parcerias em território nacional e internacional entre elas:
MidiaLab (UnB) coordenado pela professora Suzete Venturelli
Projetos selecionados: WikinaruaCiurbiGeopartitura, Som interativo Digital
NAT (Parque Lage – RJ) – Coordenado pela professora Tina Velho
CORPOS INFORMÁTICOS (UnB) – coordenado pela professora Bia Medeiros
Grupo de arte fuleira(artes efêmeras como performance) podem utilizar tecnologia ou não
Projetos selecionados: Mar(ia-sem-ver)gonha; Anticorpos; Kombi; Amarelinha binária
LABART(UFSM) coordenado pela professora   Nara Cristina Santos
pesquisa teórica crítica e história da arte e tecnologia


1maginari0 (UFMG) coord. por Francisco Marinho e Jalver Bethônico

Trabalhos selecionados: Palavrador, Casarão Verde

LIPPO (UFPI) Coordenado pelo professor Algeir Sampaio

#10ART – Dia 2 – Lucia Santaella

Antes de iniciar, Lucia parabenizou Suzete Venturelli pela organização do evento que já atinge sua décima edição, sua perseverança deve servir de exemplo para que se construam projetos contínuos de discussão e exposição (necessidade também indicada pelo Oliver Grau na palestra de ontem). Estou tentando fazer a minha parte com a minha visão do evento aqui no blog.

A relevância da arte-ciência na contemporaneidade

Santaella inicia sua fala discursando sobre a aceleração na produção de linguagens que forma o fluxo contínuo de informação, a pulverização do tempo como duração. Estes processos resultam da era da reprodutibilidade técnica(Benjamin) após a Revolução industrial que expande as áreas de conhecimento induzindo a um constante repensar da noção de arte, que se repete a cada nova remediação.
Este fluxo contínuo é amplificado após o urinol de Duchamp. Para Santaella, a obra de Duchamp equivale a uma carta de auforria dos artistas que inicia um processo de liberdade de produção artística. Ser artista se torna um ato de fé e cabe a cada um encontrar o seu nicho e ser fiel a sua obstinação pessoal, o desejo de ser artista.
A aproximação entre arte e ciência cresce desde o Renascimento com Da Vinci se revelando em diversas variedades de relação entre artistas e cientistas. Porém, para Santaella esta relação é desequilibrada, pois a forma que os artistas tratam a ciência é completamente diferente da forma como os cientistas tratam a arte. A ciência é fonte inestimável para arte. A relação entre arte e ciência se dá através da mediação tecnológica. Os artistas mais inquietos sempre tarabalham com tecnologia inovadora. Se no século XIX era a tinta óleo hoje são os meios digitais. esta pesquisa tem implicações práticas e filosóficas pois não se faz uso de pesquisas científicas mas experimenta e participa simultaneamente com a pesquisa, se revelando em campos como a biologia, ciências físicas, matemática e algoritmos, cinética, telecomunicações, e sistemas digitais.
O desequilíbrio na relação arte-ciência diagnosticado pela autora é resultado da distinção das duas áreas como forma de conhecimento. A ciência cabe a função de decifrar a natureza, um aprimoramento de métodos de observação, modo de pesquisa controlado e padronizado que evita ambiguidades. Já a arte não tem compromisso com o real, alimenta-se do impreciso,simprovável e imprevisto. Apesar das diferenças pode-se traçar paralelismos e afinidades e a grande semelhança entre ciência e arte seria a caracterização da manifestação do espírito inventivo humano, sua maior distinção.
 
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#10ART – Dia 1 (10 de agosto de 2011)

Começou hoje a #10.ART Encontro Internacional de Arte e Tecnologia, organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Arte da UnB. Nos próximos dias estarei postando aqui pequenos resumos das palestras que considerei mais interessantes. Não tenho pretensão de fazer uma cobertura completa, até porque são quase 10h diárias de evento durante 1 semana inteira. A programação completa do evento pode ser encontrada aqui!

Oliver grau

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Teórico alemão fez uma palestra sobre a importância de novas estratégias de documentação de arte e mídia. A arte e mídia tem diversas dificuldades a enfrentar. A própria efemeridades das formas de armazenamento já é um obstáculo natural para a manutenção das formas originais de exibição. O fato de serem processuais, no sentido que exigem especificações para serem montadas nos diferentes lugares exige uma flexibilidade na execução para os diferentes locais de exibição, que muitas vezes necessitam de adaptação. Apesar de já existirem vários festivais e congressos bem frequentados ainda não existe uma iniciativa de aquisição e manutenção por parte dos museus, é uma competição desleal com a arte tradicional.
Em 2005, foi realizada a primeira conferência da série MediaArtHistories, iniciativa que teve fundamental importância para este campo emergente que é a ‘História da Arte e Mídia’ e que possui documentação em publicação de livros e online. Outra iniciativa importante são portais online para criação de acervos de arte e mídia. O Database of Virtual Art é um deles que está ativo, Grau ressalta a dificuldade de se manter tais tipos de site e afirma que diversas iniciativas foram interrompidas ou por falta de investimento ou por falta de pesquisadores responsáveis, causando desaparecimento e perda não só de documentação mas muitas vezes da própria obra. Outros sites citados que ainda permanecem online são o Rhizome e o MediaKunstNet.

É necessário uma comunidade seja pró-ativa e dedicação a longo prazo para que se amplie as formas de documentação formal que devem incluir registros fotográficos, vídeos, códigos, artigos etc. para que se crie uma estratégia sustentável. Além disso, o alemão ainda ressalta a importância não somente das conferências, festivais e da produção teórico-prática mas da formulação de um currículo para os novos professores. Acho que a palestra demostrou a urgência em se definir novas estratégias que são necessárias e fundamentais para a Arte e Tecnologia como campo artístico teórico-prático.

Anna Barros

texto completo aqui

Anna iniciou sua carreira artística na dança de improvisação de Rudolf Laban, no domínio do movimento humano e de improvisação. Hoje, apresentou seu trabalho “Tecendo o Tempo ou Sendo Tecida pelo Espaço” que consiste em uma instalação que possui dois planos. O chão coberto por um tapete, em que as pessoas devem deitar e rolar, ativando duas projeções sobre elas e a parede, que possui outra projeção. Anna desenvolve pesquisa com a percepção como integração sensorial, em que os sentidos de sobrepõem e não são exclusivos. Discursa ainda sobre a categorização dos sentidos que normalmente são separados entre primários e secundários, sendo os primários a visão e a audição. Finalizou a palestra com uma bela frase de Jung: “O processo criativo o intelecto pode descrever, mas só a experiência vivida pode entender”

Weaving Time or Being Weaved by Space, Tecendo o Tempo PartII from ANNA BARROS on Vimeo.

Neuroestética

Este tema foi discutido nas palestras de Milton Sogabe, Fernando Fogliano, Cleo Alberto Semele, Suzete Venturelli e Miguel Gally, portanto vou tentar integrá-las em um só texto, fazendo um mix das palavras dos palestrantes. Só aviso que é um tema muito complexo e vou tentar explicar o que compreendi esperando não cometer nenhum equívoco.

A neuroestética pesquisa quais ondas cerebrais se ativam na experiência estética do belo, portanto uma resposta química, um correlato neural.(GALLY) Não está interessada na arte em si mas no processo cerebral do vivenciar a arte. Qual o sistema do cérebro para sentir a beleza?

Há uma diferenciação entre a teoria da neurociência e da genética. Esta última consiste em uma visão sistêmica em que o artista é influenciado pelos elementos que entra em contato. Estes elementos formam um mapa mental em que a produção artística é um resultado deste mapa que está em constate transformação e por isso nunca acaba. A arte tecnológica portanto reflete este aspecto de obra inacabada pois permite a constante atualização e criação de novas versões a partir de pequenas alterações.(SOGABE) A arte tecnológica além de ser inacabada é aberta a interferência do publico, que permite não só a interpretação de acordo com cada mapa mental mas a intervenção, reação e colaboração resultante deste mapa que pode se manifestar também fisicamente.

O desenvolvimento da neuroestética pode ter diversas implicações no rumo da estética e da arte. Caso não haja correlato neural poderia ser possível afirmar que o belo é uma questão de gosto particular e relativo. Já a confirmação de uma correspondência neural poderia instaurar um estado de universalidade, um desencantamento da experiência do belo. Se ficou atribuído a Kant na “crítica da faculdade de julgar” uma revolução do gosto, estaria a neurociência fazendo uma nova revolução? Tratar a consciência como cérebro é algo cultural, que vem desde o iluminismo com o costume de se conceituar e teorizar o máximo possível e a estética é uma conceitualização do sentimento. Um tratamento material inauguraria corrente estética dentro das ciências, não finalizaria sua área de conhecimento. (GALLY) A neurociência apesar de compreender as ondas cerebrais não generaliza a experiência. (SEMELE)

Esta vivência humana vem tentando ser simulada através dos computadores e é nesta busca que se desenvolve a neuroestética, uma tentativa de compreender essa experiência através dos processos mentais(VENTURELLI), para possivelmente simulá-los ou quem sabe até reproduzi-los.

A experiência é permitida pelo reconhecimento do self, e portanto o discernimento do outro; da memória, da intenção como foco da sensibilidade e da emoção como catalisador da sensação de experiência que a torna memorável(FOGLIANO). Na verdade, a visão biológica e cultural coexistem e o nosso ambiente biológico é influenciado pela percepção e também pela tecnologia(SOGABE). Achei interessante a pergunta que o Milton Sagobe fez ao final da palestra: seriam os sensores uma tentativa de se dar um corpo ao cérebro que a tecnologia produziu.

Textos completos aqui:

 

Gameduca

Projeto de jogo/rede social para aprendizado da história da arte. O projeto é bem interessante e propõe que alunos e professores interajam a partir de criação de exposições virtuais. Quanto maior a contribuição, mais pontos ganham e podem adquirir novos status como historiador, restaurador, curador, etc. Além disso os alunos podem se reunir em grupos de interesse chamados coletivos. Enfim, um projeto muito legal desenvolvido por alunos da UnB com previsão de disponibilização online daqui a 2 meses.